Durante a ocupação muçulmana da Península Ibérica, entre os séculos VIII e XII, Lisboa foi conhecida como Al-Ushbuna

Esta designação árabe reflete a importância estratégica e cultural da cidade, que então fazia parte do Al-Andalus. Situada à beira Tejo, Al-Ushbuna era uma cidade murada (cerca moura), com intensa atividade comercial, agrícola e artesanal. Os mouros deixaram um legado profundo na organização urbana, na arquitetura e nas práticas do quotidiano.
Um dos aspetos mais visíveis dessa herança são os bairros de traçado orgânico, como Alfama e Mouraria, que conservam a estrutura de tipo medina – ruas estreitas e sinuosas, pensadas tanto para o clima como para a defesa. Os sistemas de abastecimento de água, através de poços, cisternas e noras, foram igualmente uma inovação introduzida pelos árabes. No dia a dia, a população adotava hábitos como o uso do hammam (banhos públicos), o cultivo de hortas nas imediações da cidade e uma alimentação baseada em produtos como a beringela, o arroz, as especiarias e os frutos secos.
Além dos aspetos materiais, Al-Ushbuna foi também um centro de intercâmbio cultural e científico. A convivência (por vezes tensa, mas normalmente pacífica) entre muçulmanos, cristãos (moçárabes) e judeus criou um ambiente propício à transmissão de saberes – da astronomia à medicina, passando pela poesia e pela matemática. Apesar da reconquista cristã em 1147, muitos destes hábitos e traços culturais permanecem, moldando a identidade de Lisboa até aos nossos dias.
Oxalá o Turismo de massas e a emigração de luxo (hiper-especulação imobiliária) não nos roubem a alma da nossa querida capital.
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Fontes, João Luís e Oliveira, Luís Filipe Simões Dias de – Territórios da Lisboa Medieval, Instituto de Estudos Medievais (IEM), https://run.unl.pt/handle/10362/146072 (PDF)



























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